Friday, May 06, 2005

Família real (com "r" minúsculo mesmo)


"Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita em meu rosto o doce sorriso que eu me lembro de ter dado na infância.
Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei..." (O. M.)


Na primavera de 85 as coisas já me pareciam bem complexas. Eu era esse aí mostrando a barriga à esquerda. Gostava mais da minha bota preta à marrom do Giba, o herdeiro primogênito do conturbado clã Borges, odiava esse fogão vermelho que em nada se harmonizava com a geladeira Frigidaire azul cobalto claro que ficava do outro lado da cozinha. Acho que foi nessa mesma estação que levei a maior surra da minha vida por ter sumido durante 6 horas no dia das crianças, revoltado, sem um grande motivo aparente, tava deprê e não me sentia a criança mais feliz do mundo, protestava pela falta de motivos para comemorar, parece que eu tive o que queria, bons motivos para chorar.
Eu já era tratado como o diferente, pirracento, contrário, diverso do resto do grupo, mas fazer o que? eu não conseguia me controlar, na realidade nem sabia o que almejava, só queria agitar um pouco, causar!!! Todo caso sabia muito bem o que não queria.
Sim, isso era cabelo mesmo, mais tarde minhas madeixas castanho-escuras caiam sobre meus olhos, depois caíram de uma vez por todas, acho que agitei e causei demais, estressei.
Minha mãe, sei lá, por ser o filho do meio ela nunca teve tempo para mim, opa! isso não é uma revolta descabida, é um fato empírico. Ela estava sempre ocupada, podando os excessos do representante majoritário e preferido ao trono, quando não, babando nos atos brincantes do Paulinho. Aprendi desde cedo a não dar bola para isso é viver uma vida autônoma, despojada de babas materno-paternais, uma vida diferente do que seria o meio termo, meus diferenciais para chamar atenção deles não eram natos, teria então de criar fatores marcantes para chamar a atenção, algo que falasse: Oi... eu também tô aqui, tá!!! Percebi que a melhor maneira de me fazer presente era estando ausente: Cadê o Zinho?!!! Isso dura até hoje, mesmo com a triste e crônica ausência da matriarca eu ainda não parei em análise a fim de apurar meus saldos.
Mas calma gente, minha base não é de tristeza não, claro que tive momentos de criança, já fui cúmplice do Giba em atividades infanto-ilícitas, porém divertidas, já rodei minha capanga vermelha do parquinho, já me diverti no zoológico e quis voltar, já vi muita emoção nos poucos brinquedos que tinha acesso no Playcenter, já corri rumo ao mar, já gostei de ver meu pai chegar, já tive ferrorama, lego, play-mobil, atari, pogobol, ping-pork, mini-snooker e autorama.
Disso eu não esqueço, meu sorriso saia mais fácil, despegado de valores, ideologias, preceitos, ranços. Eu não tinha vícios. Minha maldade era pueril, era perdoável. Eu era criança.

10 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Nossa... Isma vc eh lindo!! vc eh demais!!

to com saudades!!!

BEJOS!

11:52 AM  
Anonymous Anonymous said...

Adorando o momento "Família Buscapé"...

11:02 PM  
Anonymous Anonymous said...

Oi Isma! Que cara de menino levado que vc tinha neh... naum esquenta com o fogão que a minha avó tinha uma igual... rs. Grande abraço do seu amigo, Flávio

10:35 AM  
Anonymous Anonymous said...

Quando comecei a fazer parte da sua família (no sentido de conhecê-la), todas as pessoas as quais conversei me disseram a mesma coisa, que vocês (Gilberto, Ismael e Paulo) eram e são os sobrinhos mais queridos devido a ausência de sua mãe e seu pai, essa ausência seria a falta de carinho, atenção, cuidados, enfim tudo o que uma criança precisa para ter um crescimento sentimental saudável. Me contaram que sua mãe sofreu muito e que devido a esse sofrimento tinha muitas crises de depressão e por isso não conseguia ser uma mãe tão presente na vida de vcs. Mas com certeza ela deu o melhor dela para vcs, pois vcs são homens de um carater admiravél.
Isma, escrevi as palavras a cima para poder expressar minha opinião sobre o texto abaixo. Posso estar enganada, mas a falta de atenção que vc coloca no texto, pode ser devido a ausência de sua mãe e isso também ocorre com os seus irmãos, vcs três são homens admiráveis, mas também são homens carentes que precisam de atenção, carinho, amor, compreensão. Quanto a vc se sentir esquecido só por que é o filho do meio, não fique assim pois eu tb. sou a filha do meio e sei como vc se sente, as vezes o mais velho era mais solicitado e o mais novo era mais bajulado e eu por ser a do meio tb era esquecida, mas isso nós superamos somos fortes......rsrsrsrsrsrsrsrsr.

Para finalizar volto a repetir "o que falta para vcs é um diálogo" ...........

bjs..........bjs..............bjs............. de sua quase cunhada

Fabia Feitosa

9:39 AM  
Anonymous Anonymous said...

Numa análise posterior (que é o caso) percebemos que o processo de formação da nossa personalidade não é totalmente introduzida pelo meio externo (ou a menor parte é). O que dizer de uma criança que normalmente ao 5 anos não sabe nem que tem que querer algo da vida e mostra atitudes e características dessas ??? Pela falta de motivos, dizemos "isso é coisa de criança". Creio que posteriormente agente apenas entende o porque ... ou não ...

Desde criança, nós apenas somos. A perda da inocência consiste nos motivos que atribuímos ao que somos. O peso do nosso sorriso é a nossa culpa.

1:35 PM  
Anonymous Anonymous said...

Nunca mais vc vai atualizar o blog???
Bjusssss

9:42 PM  
Anonymous Anonymous said...

eh
isso é familia...é assim mesmo
cada um tem a sua historia, sua
vivencia
cada familia é um mundo diferente

2:34 PM  
Anonymous Anonymous said...

Na verdade eu como filha mais velha, 11 anos de diferença do meu irmão, também sofri poucas e boas por ser a revoltada, a problemática. Também era cobrada bastante por ser a mais velha.

Mas adorei a foto Isma, muito legal.
Queria ter fotos assim dos meus pais. Acho que tenho umas 3 ou 4 no máximo.
Bjs eu te amo meu amigo
Lindsay

12:48 PM  
Anonymous Anonymous said...

Eu entendo bem essa coisa de fogão vermelho, geladeira azul e falta de atenção.
Mas é tão bonito quando a gente consegue falar disso.
Fiz uns bons anos de terapia também.
Enfim.
Um abração pra você.

4:21 PM  
Anonymous Anonymous said...

Nossa, lindo o post. Família é uma coisa de outro mundo mesmo.
Eu só começei a me dar bem com a minha depois que sai de casa. Hoje em dia é puro romantisto, minha mãe só me chama de "meu amor" hehehe todo o carinho do mundo pq vejo eles 1 vez por semana..
é assim mesmo.
muitos beijos "chaverinho" heheh

5:47 PM  

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